Esta é a Carta 8 de uma série de correspondências entre escritores que chamamos carinhosamente de Trocando Farpas: Nós da Impérios Sagrados escrevemos a Carta 1 e Carta 7. Euescrevi a carta 2 e a 8 agora. O Inominável Ser escreveu a carta 3 e escreverá a 9. O Samir Cooper escreveu a carta 4 e escreverá a 10. O Ruan Giollo Brugnerotto escreveu a carta 5 e escreverá a 11. Leonardo E Dutra escreveu a carta 6 e também escreverá a 12.
Qual a periodicidade dos posts das cartas? A cada 4 dias!
A pergunta que não quer calar é:
Pode a literatura falar de política sem se sujar?
Os links serão adicionados à medida que as cartas forem publicadas:
Acho que todos temos dias diferentes. Por exemplo, em alguns dias acordo com espírito de corredor queniano na São Silvestre e assim que calço meus tênis faço meus 5k sem reclamar. Já em outros dias, sou o desânimo em pessoa e toco meus afazeres na força do ódio e apressando os ponteiros do relógio.
Em alguns destes dias tudo me incomoda: A eterna obra dos vizinhos, o lixo que se acumula mais rapidamente na área de serviço do prédio, a escada do prédio sempre suja, a eterna mania de fazer festa de aniversário no pilotis (quando há um salão de festas para isso), a Light e a Águas do Rio que reforçam meu ódio pelo serviço pessimamente oferecido pelas empresas privatizadas e também dos vizinhos que voltaram a andar de carro e moto e cismam de acelerá-los ás 7 da manhã.
Até o barulho do boteco perto de casa me incomoda, já que ele anda mais cheio que uns anos atrás. Neste caso é uma puta hipocrisia minha, porque vez por outra também estou lá bebendo umas cervejas em raros momentos de simpatia que emito.
Também tem a vizinha com voz estridente que cisma em “cantar” louvor em um volume proibitivo quando se habita em apartamentos colados um ao outro. Ela deu sorte, porque se eu fosse Deus já teria jogado alguma das pragas do Egito nela só por achar que sou surdo. Ah e indicaria umas aulas de canto. Sorte dela que não sou Deus.
No caso dela, basta colocar minha pequena caixa de som na janela com meu áudio favorito do You Tube: 4 horas de Exu e Pomba Gira. Em menos de um minuto ela percebe que está incomodando.
Não sou encrenqueiro a ponto de reclamar do barulho de coito na madrugada. Quem transa não costuma encher o saco de ninguém e assim o equilíbrio bambo daqui se estabelece neste conjunto habitacional com cerca de 2000 pessoas.
Mas voltando ao tema em si, digo que certas coisas não mudam na minha percepção nem em dias assim e delas pelo visto tenho apego, ou quem sabe até tenha razão, afinal são inconcebíveis para mim e para muitos.
Dou os exemplos do pobre de direita, do negro liberal e do gay conservador que não consigo mais tolerar. Popper que me proteja. Falo com certa frequência que ser de direita não me incomoda por mais que não compreenda pobre que se diz de direita. É como uma galinha colocando fé na promessa da raposa em se tornar vegano. E sempre que pergunto porque são de direita, a resposta vem em tom de ataque. Pergunto quais planos ou projetos que a direita tem para nós, pobres e vem outro ataque dos mais variados e repetidos à exaustão quando levados ao debate. Uma aula de consciência de classe resolveria.
Agem como robôs e mecanicamente repetem como mantra suas frases e bordões limitando a discussão política ao raso, que é onde se sentem confortáveis. Em seu mundinho só existe a notícia que compactue com aquilo que ele quer acreditar e para isso tentam reescrever o sentido de liberdade de expressão, se apossam de símbolos, músicas e culturas que não lhes pertencem. Determinam que toda sua limitação é culpa do outro que deseja transformar este país em uma ”ditadura comunista”. Comigo este hábito de me chamarem de comunista cessou quando passei a chamá-los de fascistas, que infelizmente se enquadra muito bem a essa parte da população.
Ou alguém ainda acha que a estratégia do candidato da extrema-direita a prefeitura de SP não engloba as principais características do fascismo? Ou mesmo do ex-presidente e de seus filhos? Vamos continuar magnolizando o que vemos e ouvimos com um enorme esfregão fingindo que nada vemos? Para os joéis, magnolis e veras faz sentido defender a manutenção do seu ganha-pão e por isso os vejo como os grandes criadores (e culpados) dessa fábrica de trumps tupiniquins, mesmo que eles não mandem em nada e sejam meras marionetes. E que ainda sejam alvos vez por outra da extrema-direita daqui.
A partir do momento que estigmatizaram a política criaram um vão que não existe. Não existe classe política corrupta sem que aqueles que o elegeram também o sejam corruptos. E desse esgoto ainda vai sair muita gente desse naipe e vai atingir a todos, inclusive aqueles que cismam em ficar em cima do muro como se fossem funcionários da ONU. Estes também têm culpa.
Vale lembrar que…
Há muito tempo que não via tanta gente fazendo obra neste condomínio, ou mesmo fazendo festa. Lembra do boteco que citei acima? Tem churrasco toda sexta e sábado. O estacionamento do condomínio voltou a ficar lotado. Já tem morador reclamando que tem que parar seu carro usado na rua. E como já disse acima: Até voltaram a transar!!! Não fecharam igrejas evangélicas e as concessionárias de serviços essenciais privatizadas continuam oferecendo um serviço de merda. Isso não mudou. Curioso, não?
Um último ponto que gostaria de azucrinar.. ops, levantar!
Mesmo usando palavras chulas e termos pouco convencionais na ortodoxia literária quem poderia determinar que o que escrevo não se trata de literatura? Alguém tem essa incumbência ou foi passado a este alguma procuração? Não posso escrever sobre o que acontece aonde a história de fato se desenrola que é no dia a dia? Não posso observar e documentar o que me rodeia?
Literatura ou jornalismo, pouco importa como seja definido, afinal acredito fortemente que escrever sobre política (e seus aspectos satélites) não torna ninguém sujo. Política é a extensão da vida de todos nós e a vida precisa ser percebida, observada para que consigamos progredir e evoluir como sociedade. Provável que sujos sejam aqueles que tentam manter as mãos “limpas” fingindo que nada acontece.
Dito isso, tenham um bom dia, o tempo está lindo e vou sair pra minha corridinha matinal!
"Para que o mal triunfe basta que os bons fiquem de braços cruzados", talvez seja uma reflexão complementar ao seu texto. Gostei muito da maneira com que vai construindo as chulapadas e de como a entrelaça com a literatura. Me parece que é justamente o sentido de responder a pergunta que dá nome ao Trocando Farpas: escrever literariamente sobre a política.
A Carta 8 exemplifica como a literatura pode abordar temas políticos sem se “sujar”, mas sim, iluminando e questionando as injustiças e desigualdades atuais. Trocando de temática, se você quiser Fábio procura abafador de ruido, quando estou ansioso o excesso de som pode aumentar o estresse e quando coloco ajuda a abafar os ruídos
Na prática desta forma de Escrita, eu aprecio muito a naturalidade do que aqui é evocado. Politicamente falando, o ato em si diário de observar o contexto onde se vive, de modo forçado ou obrigatório, escolhido ou proposto a si mesmo para não ter que morar em um lugar pior (sim, há lugares muito piores no Rio de Janeiro e pelo Brasil, Fábio), é de uma Literatura orgânica, genuína e necessária. Estas Farpas aqui jogadas são um sinal claro de que textos assim são de uma fragrância literária de grande qualidade.
"4 horas de Exu e Pombagira" esse áudio é uma joia!
"Política é a extensão da vida de todos nós e a vida precisa ser percebida" Em tempos acelerados, perceber a vida é uma meta ousada. Penso que enquanto pudermos escrever, falar e "denunciar" essa realidade que ainda pulsa, não perdemos.
"Para que o mal triunfe basta que os bons fiquem de braços cruzados", talvez seja uma reflexão complementar ao seu texto. Gostei muito da maneira com que vai construindo as chulapadas e de como a entrelaça com a literatura. Me parece que é justamente o sentido de responder a pergunta que dá nome ao Trocando Farpas: escrever literariamente sobre a política.
A Carta 8 exemplifica como a literatura pode abordar temas políticos sem se “sujar”, mas sim, iluminando e questionando as injustiças e desigualdades atuais. Trocando de temática, se você quiser Fábio procura abafador de ruido, quando estou ansioso o excesso de som pode aumentar o estresse e quando coloco ajuda a abafar os ruídos
"E sempre que pergunto porque são de direita, a resposta vem em tom de ataque." Essa postura sozinha já responde mais que possíveis palavras.
Na prática desta forma de Escrita, eu aprecio muito a naturalidade do que aqui é evocado. Politicamente falando, o ato em si diário de observar o contexto onde se vive, de modo forçado ou obrigatório, escolhido ou proposto a si mesmo para não ter que morar em um lugar pior (sim, há lugares muito piores no Rio de Janeiro e pelo Brasil, Fábio), é de uma Literatura orgânica, genuína e necessária. Estas Farpas aqui jogadas são um sinal claro de que textos assim são de uma fragrância literária de grande qualidade.
"4 horas de Exu e Pombagira" esse áudio é uma joia!
"Política é a extensão da vida de todos nós e a vida precisa ser percebida" Em tempos acelerados, perceber a vida é uma meta ousada. Penso que enquanto pudermos escrever, falar e "denunciar" essa realidade que ainda pulsa, não perdemos.