Cano de descarga
O que leva uma pessoa a se expor publicando seus escritos como se a escrita fosse um cano de descarga? Talvez a quase asfixiante necessidade de aprovação?
Pessoas resolvidas?
Não mesmo.
Talvez seja o prazer, quase envergonhado, de saber que possa realmente se fazer entender através de algum meio.
De alguma maneira, afinal muitas vezes esse sujeito se esconde nas palavras.
Compreendê-los?
Pouco provável que seja feito na totalidade.
Levemos em consideração que nem sempre o escritor, seja ele de prosa ou poesia queira se fazer entender.
Ou mesmo consiga se fazer entender.
E nesse caso me enquadro. Na verdade só não sei se poderia me considerar um escritor.
Afinal, qualquer um pode se autointitular escritor, não?
Porém o que fazer para ser considerado um?
Ou mesmo se sentir um?
O que fazer?
Somente os que ganham a vida desta maneira têm este direito?
E os tantos milhares que aprimoram seus pensamentos no silêncio de suas casas ou em algum canto obscuro de seus raciocínios?
Não podem ser considerados escritores?
Será que ainda seguimos quietamente o modelo defendido por Schopenhauer que dizia que apenas uns poucos deveriam ter esta incumbência e ter o direito a usar tal designação?
Não defendo a má literatura, como Schopenhauer mesmo a combatia ferrenhamente, apenas defendo a possibilidade do público escolher o que deseja ler.
Apenas defendo o direito de escolha.
Para ultrapassar a barreira quase intransponível criada pelos ditos profissionais do assunto é preciso ter paciência.
Para fazer parte deste “clube” é preciso muito mais que paciência e tenho sérias dúvidas se a tenho em suficiência.
E talvez não tenha nenhum dos outros possíveis requisitos.
Sobrenome certamente não.
Escrevo para mim primeiramente, como se a escrita fosse um cano de descarga em que excluo e divido com o leitor todas as minhas dúvidas, receios, convicções e tormentas.
Como Sebastião Nunes, prefiro me manter à margem disso tudo e apenas escrever.
E escrever.
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