Arroz com catchup e outras esquisitices gastronômicas
Um dia desses enquanto assistia, estatelado no sofá da sala, aos comerciais de alguma partida da NBA, vi que o McDonald’s´s lançou uma campanha sobre algumas misturas pouco usuais no cardápio limitado de qualquer fast food.
Neste caso mostravam um belo copo de sundae misturado com batata frita seguido de um ralo molho barbacue em algum hambúrguer de frango.
Daqueles hambúrgueres lindos em fotos publicitárias, mas anêmicos e murchos quando no téte-a-téte da fome.
Pois bem, além de tentar controlar o demônio da gula noturna, ainda teria que fazê-lo assistindo ao bailar de sanduíches e sundaes nos intervalos.
Difícil…
Mas o que queria falar era outra coisa:
Todos temos alguma esquisitice gastronômica.
Eu tenho algumas que se modificam com o tempo.
Umas fases bizarras, digamos assim.
Quando mais novo misturava biscoito maisena com maionese e tomava café como acompanhamento.
O que em muitos poderia causar ânsia de enjoo, para mim era uma delícia que só eu havia descoberto.
Na verdade, eu colocava maionese em tudo, inclusive no arroz.
Exceto quanto tinha feijão, afinal para tudo nessa vida há um limite.
Mais tarde, já trabalhando na rua, descobri as delícias de comer em restaurantes a quilo e nunca me pareceu estranho no mesmo prato conter um bife à milanesa, um pedaço de peixe empanado e algumas linguiças distribuídas pelas laterais como se ajudassem a comida não cair pelas beiradas.
Não me importava se as iguarias tinham nadado, pastado ou chafurdado quando ainda vivas.
Vale lembrar que nessa época eu tinha uns vinte poucos anos e comia como uma draga.
Na verdade mesmo, parecia uma lixeira devido à quantidade de tranqueiras que ingeria.
Tranqueiras são o que hoje chamam de junk food e eu ainda por cima não engordava…
Passado mais um tempo eu “descobri” as delícias de um bom azeite.
E banhava o mesmo prato de carnes diversas, assim como na batata frita, no arroz ou no feijão.
Eu inundava o prato com azeite.
Só faltou testar na sobremesa.
Agreguei a isso tudo que citei acima a outra esquisitice que tive por um período:
Em tudo despejava catchup.
No arroz já tinha virado hábito despejar uma abundante quantidade, enquanto minha avó balançava a cabeça negativamente.
Cruzes!, dizia ela quando passava o olho pelo meu prato.
Assumo que deixava o prato bem feio, mas eu pouco me importava.
O meu vício em catchup não apenas desagradava a italianos e paulistas por colocar porções generosas em pizzas grosseiras do subúrbio carioca, mas também em algumas saladas que já vinham me acompanhando desde a primeira vez que não coube em uma calça de trabalho.
Desespero que fala, né?
Enche o bucho de salada que emagrece!
E eu tô acreditando nisso há mais de 20 anos.
Ao menos hoje entendo bem a razão dos homens terem se metido no mar atrás de iguarias e temperos.
Imaginem comida sem sal, vinagre, azeite ou aquela pimenta-biquinho safada?
E isso porque não sou dos cozinheiros mais desbravadores a ponto de usar cominho, alecrim ou açafrão, por exemplo.
Sou mais um aluno dedicado do Larica Total que hoje se vê obrigado a comer salada e a maneirar nas podreiras pelos índices descacetados dos últimos exames de sangue.
Tenho 48 e não mais 18, né?
E se há hoje alguma nostalgia em mim é desse tempo que eu comia sem pena ou medo de engordar.
Hoje esquisitice para mim seria comer brócolis.
Mas isso não como nem que entupisse de azeite e catchup.
Cruzes!
Texto de 2024.
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